Rio do Rastro Marathon - 67 km Missão dos Guardiões

Blumenau (SC), 14 de Maio de 2022. 


rio do rastro marathon


1
º
 Dia - Prova de 25 km 

Essa prova oficialmente começou em novembro de 2021 quando confirmei a inscrição e mandei a mensagem para o meu treinador na assessoria:

- Eu fiz a inscrição para a Serra do Rio do Rastro.

- Desafio hein. 25k?

- Assim, não é uma prova alvo. Então. Nem sei como te escrever. Foi no 25k+42k. Ficando dentro do tempo de corte. Está ótimo. Quero aproveitar a prova.

- Fez o desafio das duas provas?

- Sim

- Eita. Lado bom é que tens bagagem de anos de provas longas, por mais que hoje tá voltado, tem memória fisiológica.

Estava voltando ao mundo das corridas e recebendo assessoria adequada. Com a inscrição feita, me desafiei e desafiei o treinador. No fundo eu não queria apenas ficar dentro do tempo e aproveitar, eu iria dar o meu melhor.

Após a confirmação da inscrição, comecei a ir para o trabalho de bicicleta para adquirir uma resistência a mais. Tomei gosto. Fugir do transito caótico e da alta do combustível, eu só tinha a ganhar.

Os treinos foram intercalados com as provas alvos em busca dos recordes pessoais. Alguns longos eram realizados em dias seguidos para se trabalhar a fadiga muscular. Outros treinos eram realizados de manha, a tarde e a noite.

Apenas as pessoas muito próximas estavam sabendo desse meu desafio. 

A vantagem de não se ter rede social, era o fato de não cair na tentação e divulgar, criando assim, uma expectativa que pudesse se transformar em pressão.

Na rede social da assessoria, aqui e acolá era publicado um post sobre os meus treinos e o desafio que se aproximava. Geralmente era um video do treinador me acompanhando em um longo.

Semana após semana, dia a pós dia, os 67 km com mais de 3.600 m de altimetria acumulada estavam tomando forma. A Rio do Rastro Marathon estava sendo construída dentro de mim. 

Como a prova era em dois dias seguidos, 25 km no sábado e 42 km no domingo, com largadas em cidades diferentes mas o mesmo ponto de chegada, a logística foi planejada de modo que ficasse o mais cômodo possível, não havendo a necessidade de um longo deslocamento antes de largar nos dois dias. 

Chegamos na sexta feira a tarde em Orleans para retirar o kit e nos alojarmos em um dos últimos quartos disponíveis da cidade. Uma ala destinada aos funcionários do hotel, havia sido aberta aos hóspedes devido a grande procura por hospedagem durante o evento.

A noite fomos em um restaurante indicado pela organização. Não chegamos tarde, mas devido à procura por restaurantes de massas, o indicado estava lotado. Haviam várias opções no cardápio do buffet que já tinham acabado, mesmo assim optamos em jantar ali mesmo.

A largada era as 7h da manhã de sábado, em Lauro Muller. Acordamos as 4h. A logística consistia em o treinador me deixar em Lauro Muller e seguir para o Mirante da Serra local da chegada, antes do fechamento da rodovia para o transito de veículos, prevista para ser as 6h.

Estávamos com um boa folga no tempo. Fiquei em frente a prefeitura de Lauro Muller onde estava o pórtico da largada. Vestindo uma jaqueta, e segurando uma bolsa com uma toalha de rosto, um squeeze de agua, alguns sachês de carbogel e isotônico, comecei a fazer algumas fotos e vídeo do local.

Me hidratei. 

Organizei a sacola para deixar no guarda-volume e lá estava eu na baia de largada para o primeiro desafio dos 25 km da Serra do Rio da Rastro. A temperatura estava baixa, suportável, uma neblina que cerrou a madrugada, ainda pairava sobre a cidade. A previsão do tempo ao longo da manhã, não era de chuva, mas de frio.

Pontualmente as 7h, largamos. Alguns trechos do percurso eram de asfalto, outros de paralelepípedo, estradas de terra e o retorno ao asfalto, passando por cenários bucólicos com altos e baixos.

Quando cheguei no primeiro ponto de corte, no Mirante 12, estava me sentido bem. Faltavam aproximadamente 13 km para o final e a elevação acumulada estava em 416 m, do total de 1932m.

Segui firme.

Olhei para o alto e não me intimidei com o topo da Serra. Lá era a minha primeira meta.

Os últimos 7 km eram os mais difíceis. Estava com 937 m de elevação acumulada e faltavam 1000 m de altimetria a ser vencida.

Caminhando em alguns trechos e trotando, faltando 1km para a chegada encontrei o treinador Jonathan. Nessa hora encontrá-lo berrando frases de incentivo me fizeram reunir forças e concluir os 25 km em 2h 47min 09s.

Primeira meta concluída! 

2º Dia - Prova de 42 km 

Para não cometer o mesmo erro de sexta, no sábado à noite saímos para jantar mais cedo. Jantar algumas horas antes auxiliaria o meu fisiológico no dia seguinte.

Encontramos um restaurante caseiro próximo ao hotel.

Estava me sentindo bem, sem dores ou algum reflexo muscular da prova dos 25 km realizada pela manhã. 

Estava apenas ansioso em alcançar a linha de chegada dos 42 km no dia seguinte.

Depois da janta me hidratei  (500 ml de isotônico e alguns goles de água) e apaguei.

Acordamos cedo. 

Me hidratei com isotônico e mais água.

Nos dirigimos ao café do hotel. Segui o ritual de café da manhã que estava funcionando nas provas longas: 1 banana e 1 xícara de café preto.

Saímos do hotel em direção à largada, prevista para as 6h45min, desta vez em Orleans ao lado da rodoviária. Mais uma vez o Jonathan precisaria me deixar e seguir em direção à Serra, para passar pela barreira, antes do fechamento da rodovia.

Fotos e vídeos antes de largar e algumas vezes realizei o percurso até o banheiro químico. O café preto somado ao nervosismo da prova, possui essa propriedade no meu organismo: um excelente elixir de limpeza intestinal.

Me sentindo mais leve do que nunca, me direcionei para a baia da largada.

Considero a Corre Brasil e a Montain Do, as duas melhores organizadoras de corridas em Santa Catarina, ambas criaram um áudio antes da largada, simulando um diálogo de vozes que surgem na nossa mente antes de qualquer desafio, reproduzo aqui na forma de texto:

"- A corrida é hoje. Eu não vou conseguir."

- Vai sim. Eu acredito em você.

- Não.. não... eu vou desistir.

- Você treinou para isso..

- Tá eu vou tentar..

- Tentar não .. você vai conseguir.

(uma terceira voz) A lágrima e o sorriso se unem a fauna, a flora e a história. Cada um faz parte do todo, e o todo faz parte de cada um. Eles se pertencem. Eles têm a missão de proteger os mistérios por traz da serra. Eles são os Guardiões do Rio do Rastro Marathon."

Foi de arrepiar e soltar algumas lágrimas

Correr sempre foi algo que busquei como um desafio pessoal, o maior deles até então, estava encarando naquele manhã de domingo. 

Já havia participado de provas de Sky Running com 47 km e Trail Running de 100 km, ambas não consegui concluir. Desafiar-me sempre foi uma constante desde que iniciei nesse mundo.

Mas aqueles 67 km da Rio do Rastro Marathon eram diferentes. A prova estava sendo desenhada meses atrás, uma entrega que começou com treinos específicos. Não queria apenas completar a prova, queria vencer alcançando meu objetivo e principalmente, chegar bem.

Durante o percurso dos 42 km, antes de chegar em Lauro Muller, ao longe avistava o ponto mais alto da Serra do Rio do Rastro, só tinha olhos para esse ponto. Eu conhecida os últimos 25 km porque havia corrido no dia anterior e sabia muito bem os trechos onde poderia impor um ritmo mais forte.

Cruzamos estradas de chão, pontes sobre rios e verdes campos em ambos os lados do percurso. Chegar em Lauro Muller foi muito confortante.

Estava me sentindo em casa.

Quando alcancei o Mirante 12, a energia dos atletas que aguardavam para largar para a prova do Desafio dos 12 km foi contagiante.

Uma energia extra me tomou. Estava bem. Até esse momento não havia caminhado.

Quando cheguei na Santa, nos últimos 7 km o paredão se impôs novamente, eram 1500 m de elevação acumulados até o momento e faltavam mais 1000 m de elevação.

Entre uma passada e outra olhava para o topo, caminhando e trotando lentamente me aproximava cada vez mais da minha redenção.

Um atleta dos 67 km me ultrapassou e tentei buscar a minha posição. Quando ele caminhava eu me aproximava. Foi assim até os últimos 3 km quando ouvi uma voz:

- Bora Marcelo! Vamos Guerreiro!

As palavras soaram dentro da alma. Era o Jonathan.

Levantei a cabeça e sem sucesso não consegui identificar onde ele estava, devido a sinuosidade do percurso que ainda faltava. Acelerei as passadas que se transformaram em um leve trote. Recuperei a minha posição e me distanciei cada vez mais do corredor que havia me ultrapassado.

O ritmo aumentava aos poucos conforme ouvia os incentivos vindos do alto. 

Em seguida encontrei o Jonathan e ele eufórico me falou que eu estava entre os 10 corredores nos 67 km, e faltavam apenas 2 km para o final.

Não parei mais. Um filme que vinha passando na minha cabeça durante o percurso se intensificou. 

Quase deixando para trás o Jonathan que acompanhava, venci a ultima subida e acelerei o meu ritmo. Os últimos 500 metros foram incríveis. Um sprint que nem eu mesmo acreditei que conseguiria.

Entrei no funil formado pelo público na chegada e atravessei o pórtico vibrando como nunca tinha vibrado antes. 

Venci a Serra do Rio do Rastro mais uma vez, com 4h 31min 33s, ficando em 11º colocado na classificação geral dos 67km da Missão dos Guardiões. 


rio do rastro marathon
Jonathan me acompanhando nos últimos 2km


Palavras de incentivo que soaram dentro da alma.



Distância: 25 km
Tempo líquido: 2h 47min 09s
Posição Geral Masc.: 93 de 397

Distância: 42 km
Tempo líquido: 4h 30min 57s
Posição Geral Masc.: 47 de 267

Distância: Desafio dos Guardiões 67 km
Tempo líquido: 7h 18min 06s
Posição Geral Masc.: 11 de 33









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